segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Intercurso

Vem com seu desejo despudorado.
Arranca-me as vestes
Dá-me um beijo indecente.
Rasga-me os quadris e, perturba 
minha mente com um prazer sem nome.
Desvenda os mistérios de minha mente nesse íntimo movimento...
Sou tua...
Sou tua!


Secreto deleite

Foi há poucas horas...
Meu corpo continua o mesmo,
Mas despejaste teu destino
Em minha vida,
Como teu gozo
Em minhas entranhas.
Temo querer-te demais
Temo que te esqueças
E te apartes de mim...
Mas quem pensa em tamanho
Lamento depois conhecer
Teus saberes e sabores?
Teu sussurro me inflama,
Queima minhas orelhas
E arranca minha castidade.
Teu corpo me alucina e embaraça
Teus beijos
Nos seios,
Nas coxas...
Carícias indizíveis
Por entre os lençóis.
Um segredo
Selado a vinho tinto:
“Como queria viver sem ar...”
Aveludada voz enigmática,
Suor,
Beijos...
Confissões testemunhadas
Por indiscreta
Penumbra...
E uma promessa:
Dentro de mim
Serás o único...
Permaneça,
Entre meu mais ardente
Suspiro
E o mais apaixonado
P a l p i t a r ...

Noiva acorrentada

Somente esperanças em pó. E a vontade que a vida comece a acontecer dentro de mim. Vontade que a vida floresça a meu redor. Ávida por sentimentos e por uma marreta que quebre minha couraça . Implorando por uma receita que suavize meu coração selvagem. Estou caindo e vejo o fundo do precipício.... anestesiada.... letárgica... ciosa por um último suspiro de amor e de vida. Rastejante da escuridão. Amante do sombrio. Persefone, a noiva raptada e violentada... Enrolada em seus dedos mefistofélicos. Como escapar sem sangrar? Como fugir sem deixar rastro? Como esquecer? Acorrentada... espero.... espero... espero.... espero...


Carta para um amor perdido

Um amor...
Uma separação...
Minhas palavras...
Nossas lágrimas.



Comecei a escrever essa carta, não sei bem com qual intenção. Nem sei se vou enviar, mas de algum modo precisava conversar sobre coisas tantas que assaltam meu sono, minha linearidade e meus projetos. Não sei o que você tem feito da vida. Não quero ser profunda, mas de algum modo isso já é tão meu que não consigo evitar por mais que eu tente ser superficial em aspectos tão corriqueiros. 

Não costumo me lamentar por coisas idas.
Não gosto de imaginar o que seria; pra evitar que o passado atrapalhe minha determinação. Mas ultimamente, ponderando sobre a matéria, sobre o existir e sobre os amores que escolhemos - ora possíveis, ora platônicos - encontrei-me perdida: " devo permanecer ou partir?"
Percebi que eu não vivi... simplesmente passei pelos anos sem alegria ou tristeza. Polida somente. Que raios de vida é essa, então? Se não se vive, se não se tem prazer em coisas tão simples ou sofisticadas? Onde possivelmente eu poderia encontrar esse prazer?
Mudei o paladar e evito contato auditivo com passado e conto mentiras pra mim mesma na vontade de crer que de fato mudei... será que estaria realmente curada? Será que estou tão bem resolvida assim?
A verdade é que embora tenhamos um hiato em nossas vidas sempre me deparo com as reticências que deveriam ter sido excluídas desse texto. Por que não é simples colocar um ponto final nessa estória toda? Por que não ensurdecer os sons de tantas canções? Por que simplesmente não virar essa página? Por que te encontro em tantos sorrisos perdidos? Por que te encontro filhos que não tivemos, em estórias que não vivemos? Por que você sempre volta com tanta força quando eu achei tudo já houvesse desaparecido? Por que isso tudo é tão forte?
 
Tive minhas experiênicas. Conheci pessoas. Vi lugares. Vislumbrei oportunidades de esquecer tudo o que houve. Mas meus esforços parecem minguar, porque a resposta é uma só: você - um domingo solitário depois de uma chuva, quando se observa o entardecer e não tem ninguém na rua: só enxurradas e nuvens bem pesadas.
Estou certa vamos continuar vivendo e, estaremos bem. Embora eu tente não invadir tua vida e tua caixa de mensagens com coisas tão passadas e sem valor. Sabe... Eu não posso dizer que você foi o único amor de minha vida. Você não foi. Mas de fato você foi o maior. 

domingo, 8 de agosto de 2010

Uma garota...- Parte I

Mirieli desde muito nova sonhava em ser par... Necessitava ser par, como Cinderela em seu borralho, sonhando com um "um homem pra chamar de seu". Sentia-se insuficiente ímpar. Tola demais pra o ser. Oca demais pra tentar. Sua ausente auto-estima forçava-a a apoiar-se nas opiniões das amigas, nas roupas parecidas, modo uniformizado de pentear-se: sempre com molde encaracolado acoplado ao crânio para ter certeza de que nenhum vento abusado ousaria desfazer-lhe os únicos seis cachos que desciam pelo colo inane e maltratado. Por via de qualquer dúvida, levava sempre consigo um prendedor ordinário na cor pink para evitar frizz e volume e estar sempre na voga com um coque despojado. Como membro fiel da tribo das excluídas.com, pintava suas unhas semanalmente com a batida francesinha e decorava-as com motivos florais cuidadosamente feitos com tinta de tecido e uma leve camada de seda base. Tentava encobrir seu rosto judiado de espinhas, improvisando um rouge com o velho batom vermelho. Passava lápis preto ao redor dos olhos à guisa de Amy Lee (vocalista – e, diga-se de passagem – linda do Evanescence), o que deixava seu visual borrado, todas as vezes que caminhava debaixo do sol inclemente ou em dias de chuvas torrenciais, 20 minutos até chegar à escola. Caprichava no excesso de gloss pedidos pela revista de sua vizinha e amiga, consultora de cosméticos por encomenda, Salete. Salete cabe um parágrafo, mas vou dedicar a ela somente 8 1/2 linhas: [Qualquer pessoa com o mínimo de sensatez, saberia que Salete era míster em divulgar informações falsas e verdadeiras, socializava a dor alheia sem moderado pudor. Tudo pelo bem do bairro. Mas ela não era culpada, como maldição todos os vizinhos eram daquela forma. Espalhafatosos - mestres em espalhar fatos desnecessários para avivar a vida do bairro.]
        Em dias que o visual pedia diversificação, Mirieli fazia a auto-faxina geral: escovava com mais carinho seus dentes amarelos, cariados e voltados para fora da correta mordida. Aparava seus pêlos pubianos com a tesoura enferrujada que ficava na janela do banheiro. Ela não tinha datas regulares para poda íntima. Estava decidida que iria ser freqüente à depiladora e amiga Flávia somente quando se casasse. Às vezes mal se tocava no banho. Lavava com esmero os pés que volta e meia sujavam-se nas estradas. Lavava com xampu barato seu cabelo, mas a ‘minha xaninha’-como delicadamente apelidara sua genitália-Deus que a livrasse! Só a água que passava do corpo era suficiente pra remover seus mucos e naturais fluidos. Para os dias de semana, quando ia pra escola, como todas as suas amigas, vestia-se com cuidado: primeiro vestia a calcinha e imaginava-se nua na frente de Rodolpho Hermes, que estudava em sua sala, tri repetente do segundo ano e, ao que sabiam cultivava hábitos atípicos, mas totalmente aceitos por pessoas igualmente perdidas – bebedeira, quebra-pau em qualquer esquina, racha e agressão à mulher – mas que sorriso ele tinha!! Tudo bem que tinha algumas falhas na dentição, mas os dentes da frente eram suficientemente suportáveis na visão de Mirieli. Imaginava-se em frente ao espelho do quarto do casal colocando igualmente a calcinha vermelha dois números menores para dar certo volume na retaguarda enfraquecida, caída e ausente pela magreza e pela postura saint-troppez – no popular, corcunda mesmo. Depois colocava o sutiã branco encardido nas alças e debaixo das axilas e imaginava que nesse momento, que o amor de Rodolpho Hermes chegava a limites incontroláveis e, ele a jogaria na cama e delicadamente tirar-lhe-ia a lingerie, dizendo que ela era a mulher de sua vida... A voz estridente de sua mãe gritando para que ela andasse rápido pra limpar a casa obrigava-a a  vestir uma camisetinha meio velha por cima da roupa íntima meio surrada e acordar do sonho perfeito. Então preparava um banho de creme maravilhoso que Flávia tinha ensinado: “-A Salete fez e deu super certo no cabelo dela! Vou fazer também!” adicionava ovo e maionese à máscara de lama negra que sempre comprava nas liquidações das casas cosméticas e lambuzava a cabeça e ia limpar a casa. Quanto mais tempo ficar mais brilhoso o cabelo poderia ficar, uma vez que ela não podia esquecer que hoje precisava fazer uma escova igual a de Fatiúcia – outra super amiga. O vocabulário de Mirieli, mesmo o mental, não permitia que ela usasse 3 novas palavras, desse modo, o que ela mais falava era: ‘super, cara, vei, paia, boto fé’ qualquer outra coisa que soasse diferente disso poderia excluí-la do tão seleto e invisível grupo de amigas inseparáveis para a vida inteira do segundo G do ano de 2005. Lá ia ela com o CD do Linkin park colocava no volume máximo e cantava um inglês ao contrário porque ‘-boto fé que inglês é português ao contrário, vei’. Às vezes tinha muita vontade de ouvir Zezé di Camargo & Luciano, mas logo se desligava desse pensamento porque não era permitido pensar em coisas tão nacionais... [CONTINUA...]